De acordo com o decreto nº 23.584 de fevereiro de 2025 – O governo do Piauí anunciou a criação da Faculdade Estadual Piauí Instituto de Tecnologia (Faculdade PIT), instituição voltada para inovação, empreendedorismo e impacto social. O projeto levanta questionamentos sobre os rumos da educação pública no estado, especialmente no que diz respeito à priorização de investimentos e ao modelo de ensino adotado.
A Faculdade será mantida pelo Piauí Instituto de Tecnologia (PIT), entidade vinculada à Agência de Atração de Investimentos Estratégicos do Piauí (Investe Piauí). A proposta prevê cursos de graduação, pós-graduação, técnicos e livres, com ênfase em ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM). O funcionamento da instituição dependerá do credenciamento pelo Conselho Estadual de Educação (CEE) e de avaliações periódicas para renovação.
A criação da nova faculdade ocorre em um contexto em que investimentos no ensino superior precisam ser analisados sob a ótica da distribuição de recursos. Enquanto universidades públicas já consolidadas, como é o caso da UESPI, enfrentam desafios estruturais e orçamentários, a destinação de verbas para um novo modelo de ensino levanta questionamentos sobre as reais prioridades do governo. O modelo adotado aponta para um alinhamento com tendências de flexibilização do ensino superior, favorecendo a formação voltada para demandas específicas do mercado de trabalho.
O direcionamento de cursos e programas para áreas estratégicas do setor produtivo reforça a concepção de que o ensino superior deve estar atrelado à empregabilidade e inovação tecnológica. Essa abordagem pode reduzir o espaço para formações de caráter mais amplo e humanístico, concentrando esforços em qualificação técnica e produtiva.
A vinculação da Faculdade PIT a uma agência de atração de investimentos indica uma possível influência crescente do setor privado na condução do ensino superior. A governança da instituição, distinta das universidades tradicionais, pode limitar a autonomia acadêmica e condicionar seu funcionamento a interesses externos à educação pública.
Outro ponto crítico é a indefinição sobre o financiamento da nova instituição. A ausência de diretrizes claras sobre o modelo de gratuidade levanta dúvidas quanto à real acessibilidade dos cursos ofertados. Se houver cobrança em determinadas modalidades, a faculdade pode se tornar um exemplo de privatização indireta do ensino público, restringindo o acesso pleno à população.
Além disso, a exigência de avaliações periódicas para renovação do credenciamento pode submeter a instituição a métricas de desempenho que favorecem índices quantitativos, como empregabilidade e produtividade acadêmica, em detrimento de uma formação de longo prazo e de caráter crítico. A criação da Faculdade PIT representa uma reconfiguração do ensino superior público no Piauí, com ênfase em inovação e qualificação para o setor produtivo. No entanto, a ausência de um debate aprofundado sobre seus impactos, financiamento e governança pode resultar em um modelo que enfraquece o ensino público tradicional. O acompanhamento desse processo será essencial para garantir que a nova instituição atenda a demandas educacionais legítimas e não apenas a interesses de mercado.