DENÚNCIA! Falta de acessibilidade na câmara de vereadores de Parnaíba – PI

Michel Oliveira, cidadão parnaibano e membro da comissão dos aprovados e classificados do concurso da SEDUC-Parnaíba, denuncia a falta de acessibilidade linguística na Câmara de Vereadores de Parnaíba, prejudicando assim a inclusão e a participação da pessoa com deficiência auditiva naquela instituição.

Confira o relato:

Ontem, dia 10 de fevereiro de 2025, como membro da comissão dos aprovados e classificados do concurso da Secretaria de Educação da cidade de Parnaíba – Piauí, fomos marcar presença na Câmara dos vereadores para fortalecer nossa causa e acompanhar o companheiro prof. Arthur Tuca Rodrigues.

Outras vezes quando estive presente naquela casa, embora com a presença profissional de dois intérpretes de Libras, que inclusive suas presenças foram ocasionadas a partir de muitos alardes que fiz nas redes sociais, como esse que faço agora, pude observar algumas discrepâncias relacionadas ao processo de acessibilidade linguística, que deveria ser alicerçado, a partir daquilo que chamamos de cultura surda. O nosso elemento cultural linguístico se manifesta a partir do espaço visual. A pessoa surda carrega inúmeras identidades. Assim como vocês ouvintes, também nos manifestamos de forma heterogênea e diversa. Isso quer dizer que ser ou estar surdo comporta em inúmeras possibilidades identitárias, dentre elas, uma identidade política de nossa existência, aquela que me dá forças para estar aqui denunciando a falta de acessibilidade linguística arraigada à nossa cultura, na Câmara dos Vereadores de Parnaíba, aquela identidade que a partir da língua de sinais, nos dá o direito de nos apropriar do mundo e por tanto, qualquer surdo com essa identidade, refletiria o que venho aqui refletir e denunciar.

Então é a partir da minha cultura e da minha identidade que reflete a minha própria existência que venho aqui não só fazer a denúncia, mas pedir para os vereadores daquela casa reflitam junto comigo para requererem mudanças estratégicas nessa política de acessibilidade linguística que por lá começou a se desenhar. Vamos a alguns pontos:

1- Antes os intérpretes ficavam ao lado da mesa diretora, mesa essa que fica basicamente em uma parte alta do recinto, como uma espécie de palco. Muito embora antes os intérpretes ficassem à vista de todos que escutam e portanto não precisariam de um esforço visual para fitarem-nos incansavelmente durante toda a sessão, eles estavam distantes da assembleia, que na presença de uma pessoa surda, sentada nas cadeiras já de frente da cozinha, é cultural e humanamente difícil um surdo se esforçar para compreender naquela distância o que o intérprete está sinalizando;

2- Agora com mudanças estruturais, na arquitetura do local, os intérpretes ficam escondidos em uma sala, junto com a equipe de comunicação. Se antes era difícil, agora se desenha para o caminho da impossibilidade de haver uma acessibilidade linguística. Talvez para tentar amenizar essa falta de acessibilidade local, utilizem a desculpa das telas onde os intérpretes poderiam aparecer. Isso ajuda na acessibilidade online, surdos que quiserem assistir de qualquer outro lugar, mas não estar presentes;

3- Por detrás da mesa diretora, aquela mesa que fica naquilo que eu disse ser uma espécie de palco, porque é mais elevado, ficam telões de tv. Em um desses telões aparecem os intérpretes, em uma pequena janela que fica situada no canto inferior à direita da tela, de forma insuficiente para a visualização do surdo que porventura esteja na assembleia. Esta insuficiência se dá pela distância entre a assembleia até o local onde fica a tela grande. Portanto embora os intérpretes enclausurados apareçam na tela grande, isso não é o suficiente para que de forma efetiva aconteça um processo de acessibilidade linguística;

4- Talvez para amenizar a situação, digam que existe uma tela menor, já por cima das cadeiras da assembleia. Quando eu digo que é menor é porque é bem menor mesmo. Não sei, mas talvez de 20 polegadas, o que já dificulta ainda mais a visualização daquela pequena janela do intérprete que fica na parte do canto inferior direito da tela. Outro fator que dificulta se refere ao local onde está a pequena tela, isso eu me refiro a ergometria, ao esforço físico que porventura a pessoa surda deveria fazer para estar em um local de proximidade dessa pequena tela. Mesmo que o surdo fique ali naquela cadeira da assembleia, debaixo da tela, sairia com um tamanho torcicolo daquele local.

Por fim, ontem, dia 10, eu era a pessoa surda que estava na assembleia e poderia ser qualquer um outro. Mas em nenhum momento me senti incluído.

Sassaki, um teórico, fala sobre isso, que quando a Pessoa com deficiência, nesse caso o surdo é que se vira para ser ele mesmo incluído, isso nunca na vida é inclusão, é apenas uma mera integração.

Caríssimos vereadores, gostaria que lessem todas as minhas reflexões e passassem a olhar pelos meus olhos, os olhos de uma pessoa surda. É um direito de todo cidadão, quer seja ele quem for e qual seja sua condição, está presente na assembleia enquanto vocês discutem o futuro de nossa cidade. Mas se for para a pessoa surda sozinha tentar ser incluída só pelo telão, esse direito de cidadão não está sendo efetivado, um direito de nossa comunidade. Não faz sentido estar presente em lugar assim, é mesmo que não está. Se é pra estar olhando para a TV, eu mesmo prefiro olhar para o meu celular, que fica perto de mim, lá na minha casa mesmo. Então se é para fingir que eu estou presente, é melhor nem estar. E quando isso acontecer é o meu direito de cidadão, aquele direito de estar presente nas tomadas de decisões do futuro da minha cidade, que está sendo surrupiado.

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